quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sonho dois

Tiro um Agros do frigorífico e vou chupando devagarinho à espera do brainfreeze. A festa não aquece nem arrefece. Os aperitivos chocalham nas tigelas, dois gajos vêem televisão, a dona da casa quase ronca no sofá. Pego no telemóvel e ligo a dizer que vou chegar mais tarde. "Mas amor, eu prometi que vinha". "Não percebo porque insistes. Ainda se fosse um jantar para impressionar a patroa". "Sabes muito bem que nunca a vi. Até podia estar aqui..." Ela vira-se. "... à minha..." Perde um caracol do cabelo. "... frente..." Morde a palhinha. "... que... "Olá, Jorge". "Querida, tenho de desligar", sussurro já com a boca a beijar o visor.
O fecho aberto sobre o peito mostrava o fio de prata e falávamos como velhos conhecidos. "Esta música faz-me lembrar". "Pois é, não sabia que também que era crítico musical". "Ora, sabe que". Da única vez que nos cruzáramos na sala das facturas, não tinha reparado em como era atraente. Os aros compridos e dourados nas orelhas eram dignos de uma colónia de macacos equilibristas e realçavam-lhe o caramelo dos olhos. "Foi vê-los ao Coliseu?". "Deixe-me explicar-lhe desta forma, se eles tivessem mais uma guitarra eram uma harpa". A TV passa aquele concurso de misses e as eleições de amanhã. Ela regressa com mais uma sandocha.
"Sabe Teresa, estava eu aqui preocupado com a roupa e afinal o seu fato de treino é igual ao meu". "Tirei a primeira coisa que estava à mão". "Já não se faz este modelo". "É verdade". Deita-me um olhar maroto no caminho para o carro. Na aparelhagem ouve-se o Élvio que diz "Eu canto, eu canto, canto a amar", sobre uma versão de "Woodpeckers From Space". Até à próxima reunião de balanço, miúda.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Hoje acordei com o esquentador ligado.
Até sinais de neve
muito bem penteados

Pois, realmente camarada
Não voltará a esta cama

Tens de abrir os olhos
Então, o peixe
e a senhora desta fruta toda
vai tudo a beber vicas.