terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O natal é uma árvore

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Não há ouro nos teus olhos
Só a luz picada das máquinas
Que escondem outro sol

Rara-se o brilho
Aos pontos
Pela máscara de escrever

Deixa o selvagem
A selva
E as órbitas ocas

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Todos os anos morrem
Lanternas novas

Eu quero a luz
E a luz quer-se simples
A transbordar o copo
Não faz mal ser a pilhas

Estrelas marrecas
Já foi tudo dito
Ou bem dito
Nem mal dizer resta
Atrás do picadeiro
Moro eu e outros
Filhos únicos
Façam poemas
Plantem chouriços
Vão ao teatro
Pensei que quisesses estar à vontade
Mas fazes o meu rabo sorrir
Sempre que me ligas
Preciso de humidade na vida
Escorre-me o amor desses lenços
Entrega-me à palma
Muda-me a água antes
Que alguém se afogue
Tenho uma ideia
É melhor não a estragar
Tenho uma máquina
Corrente
E dois pentes às riscas
Falta-me um lápis
Para ser bonito
Tenho um prato liso
Enterrado no quintal
Espera que já te apanho
Com os dentes a cheirar a alho
E óleo a escorrer das patas
Falta um de dezembro para o passado
Falta um outono para te descascar
É o fim, não me mintas

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Se o teu sangue é vermelho
Porque não paro de transpirar?
Não paro eu de brincar aos peixes
De roubar do prato para a boca
Porque hiberno com este cheiro a alho?
E te ausculto com as minhas pinças
Olho o que tenho à solta
E ponho tudo no carrinho

Anda, leva-me à feira
Enquanto sou uma máquina
Teme comigo o futuro
Porque não paro de estar contigo?
Amanhã acordamos às sete e meia
E estendemos a cama à vela
As notícias na despensa
As janelas do avesso

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Quando eu nascer
Dêem-me fruta
Albardem-me com sacas às cores
Desfaçam-me à vontade do gomo
Cuspam-me as pevides para a terra
Descasca-me a laranja
Para eu aprender
Esta dor que tenho
Tinha-a no pé
Esta baba que tenho
Morde-me as canelas
Quando nasci
Disseram-me para estar sentado

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Tossia-se todo e tossia-se a gente
Caso a humanidade se autodestruísse
Eu digo aos meus pais o que os meus filhos me disseram

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Serraram o pai ao meio
Na cama vagada cedo
Em favos aguardam
Que desinche a juventude
Essa teta que nos seca

E nos finta às metades
Carrega-nos de moléstia
Tempestuosa e certeira
Pelas covas do rio
Mais perto e mais cheio

sábado, 7 de junho de 2014

Manhãs de furacão
Tardes tropicais
noites de lobisomem

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Tantos anos sem saber
A que cheira o meu nariz

domingo, 25 de maio de 2014

Ódion
Xenon
Esguelhofobia
O quarto de um peixe chamado Vanda.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Os alicates são nossos amigos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Onani onanão
Qualquer coisa com a mão

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dei um salto de pernas de rã
Fui ao fundo
Mortiço e azul
Apontei os dois olhos
Às barras da mira estática
Que dava o tom molhado

Mais uma remada crespa
Que lá em cima pouco brilha
E não se vê ninguém
Que me deixe aprender sozinho
Põe-me os óculos, Mariposa
Leva-me daqui para fora

terça-feira, 1 de abril de 2014

Gosto de carneiro
Com corda permanente
Ligado à corrente
Não se perde na calenda

Dez mil passos a pé
Gastam gastam gastam
Dez mil passos a pé
Guardam-te as sandálias
De lanídeo almiscarado
A realidade
Não me mete medo
É uma colher inibidora
Como outro utensílio comparável
Sei que um dia vai parar
E largar-nos no passeio
Gosto deste mundo sem fios
Chove outra vez
Vou pôr o lixo a secar
Em caso de náusea
Parta o iogurte
Na temporada onze
Onde vi um lagarto no muro
Bandos de tubarões tristes
Flutuaram na piscina
Inflados do teu gás
Vou imolar-me com cloro
Já não é preciso nada
Andreia, estou a pensar para mim
Não ponhas picante no sumo das outras
Derrete-te antes no meu licor
Que não embriaga uma lesma
Não são maneiras de começar uma guerra
Somos lobos, é verdade
E a janela foi lançada ao lobos
Como uma posta de carne
Atacou-me pelas costas
E fiz-lhe frente sozinha
Que marcas me deixaste?
É mentira
Adeus, janela minha
Sou um garfo inspirado
Olhem para mim
Estou quase a acabar
Hoje soube que estava tudo bem
Não soube nada
E lavei-me debaixo da pele
Com o melhor detergente
A vigília
É diluidora
Da igualdade
A fartura
É engomadora
Da liberdade
A preguiça
Depois do almoço
A desvergonha
É um colectivo de cabras mimadas
É por isso
Que vamos jogar à espada
É uma ilha
É uma ilha
É uma ilha, estúpido
Começar uma frase por bem
Não a torna boa
Só há decência nas palavras
Pudim, espadachim e alicate
Trouxeste-me ambientador
Amigo das plantas
Não te consegui o obrigado
Tu pensavas que eu não era capaz
De dizer o nome desta gente toda
É bem feita
Para a tua cara de cratera
Enquanto subo ao Vesúvio
Vais serrando os apertos de mão
Medir tudo em vidas
Em campos e mundos
Faz mal aos meus dedos
É pasto para a vergonha
Emagrece famílias

Deixar a janela aberta
Não é mentira
Sentar à máquina
Não é batota
É matar a fome


Cansado do mesmo azul de sempre?
Não é normal.