terça-feira, 23 de setembro de 2014

Todos os anos morrem
Lanternas novas

Eu quero a luz
E a luz quer-se simples
A transbordar o copo
Não faz mal ser a pilhas

Estrelas marrecas
Já foi tudo dito
Ou bem dito
Nem mal dizer resta
Atrás do picadeiro
Moro eu e outros
Filhos únicos
Façam poemas
Plantem chouriços
Vão ao teatro
Pensei que quisesses estar à vontade
Mas fazes o meu rabo sorrir
Sempre que me ligas
Preciso de humidade na vida
Escorre-me o amor desses lenços
Entrega-me à palma
Muda-me a água antes
Que alguém se afogue
Tenho uma ideia
É melhor não a estragar
Tenho uma máquina
Corrente
E dois pentes às riscas
Falta-me um lápis
Para ser bonito
Tenho um prato liso
Enterrado no quintal
Espera que já te apanho
Com os dentes a cheirar a alho
E óleo a escorrer das patas
Falta um de dezembro para o passado
Falta um outono para te descascar
É o fim, não me mintas

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Se o teu sangue é vermelho
Porque não paro de transpirar?
Não paro eu de brincar aos peixes
De roubar do prato para a boca
Porque hiberno com este cheiro a alho?
E te ausculto com as minhas pinças
Olho o que tenho à solta
E ponho tudo no carrinho

Anda, leva-me à feira
Enquanto sou uma máquina
Teme comigo o futuro
Porque não paro de estar contigo?
Amanhã acordamos às sete e meia
E estendemos a cama à vela
As notícias na despensa
As janelas do avesso

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Quando eu nascer
Dêem-me fruta
Albardem-me com sacas às cores
Desfaçam-me à vontade do gomo
Cuspam-me as pevides para a terra
Descasca-me a laranja
Para eu aprender
Esta dor que tenho
Tinha-a no pé
Esta baba que tenho
Morde-me as canelas
Quando nasci
Disseram-me para estar sentado

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Tossia-se todo e tossia-se a gente
Caso a humanidade se autodestruísse
Eu digo aos meus pais o que os meus filhos me disseram